sábado, 8 de dezembro de 2012

Ela vai. Estendo a mão, esgarrada, convocando. Ela vai, vai. A mão cai, me enrolo me encapo de vergonha e medo. Ela foi, não há o grito - perdi a permissão do seu nome. O vazio do estômago se esgueira e chora. . . Foi. E a abertura do meu peito se cava sobre a camada de lava ainda quente. É o único jeito de manter o canal aberto, respirando.
A noite é fria, meu coração quente pulsando à meia luz pelo cadáver da próxima vítima.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

É assustador ser o amor de uma vida. É muita responsabilidade. Assusta pensar que todas aquelas outras pessoas potenciais simplesmente o deixam de ser por sua causa. Dá uma pequenez tão grande sentir-se uma no meio de. 
Mas, sim, você superou todas aquelas pessoas potenciais, sim eu troco todas elas por você porque - porque eu te amo, e você cuida de mim. 
É uma honra ser o amor de uma vida. Ter uma outra vida inteira para cuidar, ter uma outra vida inteira para fazer feliz além da própria. É uma responsabilidade de querer, é inigualável sentir o poder de preencher a carga amorosa de um outro eu.
Sei que assusta pensar nesse tamanho. Mas me parece tão fácil viver assim, e tão errado não viver. Porque é tanto a perder deixar isso de lado - uma vida implica tantas marcas. É errado pensar no não: ser o amor de uma vida é a opção acalentadora. 
Ela quer, e eu também. Diz que eu sou o amor da sua vida - ela pede. Eu digo. E ela repete.

domingo, 7 de outubro de 2012

Meu respiro pulsa, e a batida no seu peito. Reencontramos a felicidade da sincronia.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Eu morri. Eu morri e, exatamente porque eu morri, eu agora vivo.
É esquisito pensar assim, mas a vida que se pode dizer plena - no sentido mesmo de completa, de abrangente, no sentido mesmo de vida como uma ameba do mundo -, a vida que se pode dizer plena é feita de várias pequenas mortes.
E eu falo de várias mortes em uma só pessoa. Em cada só pessoa. Mortes que vão tornando cada ser um monte de seres. É complexo, e doi, mas a vida não é una. Há uma história, e o passado amontoa uma construção que até pode ser vista como contínua durante a existência, mas com ciclos e superações - como a comparação que parece idiota, mas talvez se valide pela inocência, de um pokémon que evolui. É um pedaço de mandioca que vira um purê e depois um escondidinho, mas no fundo só se tornou um escondidinho porque uma vez foi mandioca e uma vez foi purê - mas que não vai continuar escondidinho. 
Eu morri, e parece que eu já vinha antecipando a minha morte. Parece que eu vinha tentando me alertar que ia morrer, mas não percebi. E quanto mais eu fracassava no alerta, mais perto estava de perceber, e mais perto estava a minha morte de mim. (In)felizmente, ela chegou antes da ideia. Mas, exatamente por isso, exatamente por tirar meu coração de mim e tostá-lo e devolvê-lo como que cinzas de uva passa, por isso provocou a ideia. A ideia foi convocada porque era a única maneira de re-hidratar o sentimento, e re-calibrar a vida. O ponto é que, convocada ou não, veio de dentro, rasgou a passa e escorreu, envolvendo-a e renovando-a. 
É esquisito. É contraditório. É uma mistura de clarividência, coerção e força de vontade, tudo posto num caldeirão e cozido e cozido. Mas é eficaz. É tomar uma poçãozinha de homeopatia da avó da vizinha, mas com um mecanismo complexo e simples o suficiente para revirar tudo, matar, e viver.
Eu agora vivo; esperando a próxima morte para poder ser ainda um pouco mais feliz e resolvida.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A palavra doi como um corpo. Desculpa ter dado carne ao indesejado.
É. Não é que todo o imperativo cai quando não se pode pegar o telefone e contar como foi o dia? 
Eu me desimperativizo toda, volta?

domingo, 23 de setembro de 2012

Doi como tentar mudar o imutável. Não quero desistir, e doer em outro lugar, como ermitã. Mas viver aqui dessa maneira está doendo faca. Se o imutável entendesse o corte do meu coração.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tenho medo de ter que deixar você ir pra parar de sufocar a sua essência.
Você disse uma vez que conseguiria ir embora sem mim. Tenho medo.
Me desculpe que sou tão físca - para mim o físico é uma decorrência direta do sentimento. E vice-e-versa, não há sentimento sem o físico.
Pra mim cansei de platonismos. Já tive vários deles, e nenhum deles seria. Porque eram sem a previsão do físico.
Você disse uma vez que conseguiria ir embora sem mim. Para você, o contato é menos importante.
Mas eu sei que você não é boa de amar à distância.
Eu quero você inteira. Eu quero que você me ensine a andar de patins, quero que me acompanhe em situações sociais, e quero que me ame como um amor só nosso. Quero como precisar.
Você disse uma vez que conseguiria ir embora sem mim. E que continuaria me amando. Mas você aprenderia a me sentir saudades?

você disse que era um sacrifício me esperar, talvez seja que você tem a carreira em primeiro lugar - como pediu pra eu não fazer, por medo.
eu tentei desconsiderar isso, dito em um contexto de tensão, mas não consigo parar de pensar que você pode ir embora e que isso vai me fazer morrer. Se você for embora eu vou morrer, por favor me espera.

Eu te amo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eu quero doer. Se eu não quisesse doer já teria parado. Parar de doer só requer força - eu tenho força. Só que tem um jeito mais interessante - doer chama a atenção, doer é uma desculpa para receber amor. 
Mas o amor nega, não é bobo. O amor só se dá naquela mesma dose, e não cura. E me deixa chorando e me obriga a refletir."Você está pedindo demais", cospe o amor, pulsando de longe, "eu já sou seu".
E sim, eu sei que tenho o amor. Se atinjo por segundos meu registro racional, sim, eu tenho o amor. Mas o medo puxa, suga tudo, porque tendo medo e tendo dor, tenho a falta. E exijo seu preenchimento.
E aí percebo que exijo demais - finalmente percebo. "Será que é pedir demais?"- "É". Bem quando eu achava que não existia isso de pedir demais...
É claro. Se eu não quero ficar comigo porque me acho insuportável quando doída, como exigir mais do amor que já fica comigo sempre?
É horrível, mas concluo que o único jeito de ter amor, é segui-lo na sua fuga de mim.




... mas como...?

domingo, 10 de junho de 2012

E quando de repente percebe que parou de sentir? E que precisa daquela mão, daquela voz, daquele cheiro. Tinha tudo ontem, mas não sentiu, porque esqueceu de fazê-lo. Porque sentir tudo requer uma sensibilização que dificilmente vence da frieza que é requerida para viver a vida. Muitas vezes luta contra ela, mas forçar o sentir só a faz ver melhor a pior de suas faces. Talvez seja necessário o descanso mental, talvez seja necessário um depositório externo para toda essa cobrança e essa culpa. Férias é suficiente? Nada é suficiente o suficiente. Na verdade a sensibilização volta com aquele pequeno sofrimento que vai e vem. Talvez seja este o seu papel - fazê-la acordar para o que realmente importa quando tudo é posto em perigo. Quando a felicidade quase cai e ela é obrigada a pegá-la antes que quebre e se desmantele - é aí que vê o que realmente é felicidade e o que pode, eventualmente, deixar cair.
A dor renova. Limpa tudo, purifica, abre a ferida e a põe pronta a perdoar, a agradecer e a dar carinho. Muito carinho. Porque a dor a faz ver o quanto ela precisa dele.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Viver com a verdade doi de pontadas constantes. Doi mais do que se espera, quando se vem de uma vida de porcelana e não-dizeres. 
Viver sem a verdade vai doer e não doi; vai doer e não doi; vai doer e não doi; vai doer e não doi. Daí de repente doi tudo de uma vez e despenca. 
A mentira doi muito mais, mas é preferida por doer de venda nos olhos e tampão de ouvido.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um amigo definiu o amor como o poder de tornar alguém tão vulnerável a ponto de poder destruí-lo, mas não querer fazê-lo - ou deixar-se tornar tão vulnerável a ponto de se poder ser destruído, mas fazê-lo por saber que não se será.
Pensando como sempre no amor e na vida eu, sem querer, cheguei a uma outra definição que existe paralelamente à primeira: amor é, pela convivência com o outro, aprender a viver sem ele, e por isso querer e precisar dele.
Ambas as ideias têm em comum o caráter dialético, que circunda a posse da independência e a vulnerabilidade fortalecedora da relação. É assim, opositor, o amor - diriam uns. Eu acho que não se trata de oposição, mas de equilíbrio, uma ideia mais de complementação das brechas.
Por ser o amor dialético, portanto, o único jeito de preservá-lo seria atingindo e superando a síntese rumo a um novo ciclo que supera - em termos de aprendizado de convivência - o anterior. Infelizmente muita gente vive no sopé da síntese, sem conseguir consumá-la, voltando sempre à dialética primeira.
É esse o problema do mundo sentimental, a falta de sínteses.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Quanto mais eu vivo mais eu não sei o que é viver. Vai ficando tudo cada vez mais concreto e ao mesmo tempo mais abstrato. Cada vez mais parece que eu estou vivendo absurdos, mas cada vez mais eu sinto que quero menos certezas e mais loucuras. Viver não tem parâmetros, mas então como eu vou saber que isso que eu tenho é vida? Mesmo assim, acredito que é melhor que não haja parâmetros. Eu não queria escrever, porque é muita racionalização para tudo o que eu estou tentando suprimir da existência hoje. Mas faz tempo, e eu tenho tempo. É difícil ter tempo, porque eu aprendi que eu não sei lidar com ele - apesar de estar sempre reclamando da falta de tempo. Acho que a falta não é realmente do tempo, mas ele é o mais fácil de se culpar por ela. Afinal, tenho que escolher o que culpar pela falta, senão a lista subiria paredes e eu ficaria com dor de cabeça de tanto pensar no que me faz falta. E isso me deixaria deprimida. Quando eu estou, como hoje, cansada e com um princípio de dor de cabeça puramente física, prefiro culpar o tempo e apreciar o espaço. E olhar que bonita aquela flor e que cor linda a daquela garrafa em cima da mesa. E ser feliz pela contemplação da vida que eu não sei se eu tenho ou não mas que eu tenho que viver porque tenho aqui esse tempo e nada pra fazer.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Esse ano eu comecei dormindo. Esse ano começou chovendo. Esse ano eu comecei sozinha. Esse ano começou com uma lista de tarefas reais. Esse ano eu comecei mais gorda. Esse ano começou com fome de novo. Esse ano eu comecei com frio. Esse ano começou com muitas perspectivas. Esse ano eu comecei comprometida. Esse ano começou barulhento. Esse ano eu comecei com notas menores. Esse ano começou devagar. Esse ano, eu comecei feliz.