Uma coisa eu não entendo: essa mania de relacionar maturidade a vida boa. Entenda-se vida boa como vida sem erros. Os lamentos da juventude, das aventuras frustradas, as precauções excessivas para com os mais novos, as broncas, conselhos, proibições. A vida para quem tem cinquenta anos deve começar aos cinquenta anos, quando se tem estabilidade monetária, emocional e, principalmente, maturidade intelectual. Essa é fase da vida em que se faz as escolhas certas.Apesar de tudo isso, querem o corpo de vinte anos atrás.
Eu tenho um corpo de trinta e um anos atrás, tenho a vontade. Não tenho renda, não tenho experiência emocional e intelectual acumulada há mais de quarenta anos. Só que a única maneira de acumular a experiência é tendo-a. A maturidade vem da vivência da própria vida, quer com acertos, quer com erros.
Erros, eles são tão relativos.
Além disso esperar trinta e um anos para começar a viver só porque é mais seguro é como congelar o tempo. Esperar para começar a acumular experiência aos cinquenta só atrasa os anos de acúmulo de experiência em trinta e um anos; é começar os cinquenta com corpo de cinquenta e cabeça de vinte - e quem é que quer isso, hein?
A vida só é vida se tiver um desenrolar, se não é limbo. Eu vivo, não nado no lodo.
Com ou sem maturidade-do-que-quer-que-seja, eu sou feliz e não machuco ninguém com isso. E se eu aprendi alguma coisa, que vai ser a base da minha pirâmide de experiência acumulada daqui a cinquenta anos, é que eu não vou dizer a ninguém que essa pessoa é muito nova para sentir isso ou aquilo.