sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

É estranho. O que é estranho? O que não é estranho?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Desde que se dava por si, sempre fora uma meninina travessa, de cabelos curtos e grossos que roçavam sua nuca esguia e quebradiça. Brincava à procura de um futuro - embora não o soubesse -, como todos são incitados a fazer desde cedo. As bonecas pronunciavam a sua maternidade; a casinha, a gestão doméstica; o celular de brinquedo, o trabalho. Era assim porque tinha que ser, porque sempre havia sido, com todas as outras crianças do universo, e sempre seria, com todas as outras crianças do universo. Foi encorpando, mas a falta insinuada em seu corpo para que sempre houvesse a busca pela superação, a busca pela inserção inquestionável de seu indivíduo na cooperativa social, crescia com ela. Crescia por crescer, e, crescendo, foi moldando aquela anjinha em uma fôrma de valores pré-determinados de uma infelicidade constante e uma sensação de falsa felicidade superficial.
Com isso, a garota ia sendo levada - pelo quê? - pelo tempo, pela correria, pela vida - vida?. Ia se acomodando ao que estava próximo, achando que no futuro, se trabalhasse duro, poderia ter o que queria. Mas não sabia o que queria. Não sabia ao que devia se acomodar, e nem que tipo de mudança deveria ser feita no futuro. Só sabia que estava razoável agora, mas que devia ser melhor.
Um dia nasceu diferente, contudo. A menina acordou daltônica, sua visão estava embaçada e não conseguia bem distinguir o mundo que sempre conhecera. Seus conhecidos lhe eram estranhos, sua vida parecia agora estar sendo vista de fora - e, vista desse ângulo, tornava-se alheia, tola. Olhava para os cantos inexplorados como se tentasse sugar a identificação. E achou. Achou um lugar diferente, um lugar que não era erroneamente colorido, que tinha a configuração certa e era tão definido no meio dos borrões! Foi até lá e pediu a transformação, queria fazer parte dali. Descobriu, entretanto, que não precisava de transformação, que era àquele lugar que sempre havia pertencido, mas sua visão correta não lhe havia permitido enxergar. Nesse dia, a menina olhou para os lados e compreendeu que não havia mais a necessidade do conformismo forçado e do inconformismo involuntário; compreendeu que o futuro poderia não ser um passo a frente. Compreendeu que ali estava o futuro, e se sentiu bem. Compreendeu que, se tivesse que passar o resto da vida com alguma pessoa, que poderia - que deveria! - ser com aquelas pessoas.

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Eu compreendi que eu posso ser uma pessoa feliz se o meu futuro for a simples manutenção do meu presente. Eu finalmente senti que não quero que nada mude, não porque seria difícil, mas porque eu não quero que nada mude. E me sinto muito bem.