segunda-feira, 21 de novembro de 2011

É como fome. Doi sentir, mas se comemos demais, passamos muito tempo precisando ficar sem comer. Porque, apesar de tudo, é muito melhor comer quando se tem fome.

domingo, 20 de novembro de 2011

Eu quero mais tempo para ler. A frustração da minha vida é que tenho que cumprir deveres acadêmicos e não tenho tempo para a vida prática do trabalho ($$) e nem para o estudo autônomo. Me conforto pensando que, daqui a três (espero) anos, quando eu me formar, poderei passar um ano da minha vida tirando o atraso das leituras (já que eu "economizei" o/os anos do cursinho que eu não fiz). Por outro lado, conto os dias até a minha formatura para que possa entrar o mais cedo possível no mercado de trabalho para ser independente financeiramente e morar sozinha com quem, como e podendo fazer o que eu quiser. Podendo fazer o que eu quiser? - mas e o tempo para poder fazer o que eu quiser?
É aí que o meu cérebro colapsa. E eu vejo que a única solução para a plenitude da vida humana no mundo capitalista é fazer parte da nobreza ($$).
Então eu fico apática e volto às minhas obrigações cotidianas, porque o tempo urge.
Tem uma moça do passado. O que eu sei sobre essa moça do passado? Sei o que sabia quando ela ainda existia: que tem um corpo bonito, um sorriso bonito e um canto bonito. Sei a cena, como rebobinar a fita e rever rever rever. O que eu sei sobre aquela moça é a vida que eu inventei para ela. Ela pode ser como eu quero que seja - porque é indefinida, é um mistério. Para mim, ela é o que eu quero que seja.
Eu quero ser feliz com essa moça. E ela me faz feliz exatamente como quero.
Tem a moça que eu sei. E esta não é maleável como aquela. Esta é fixa. Ela é também corpo bonito, sorriso bonito, canto bonito. Mas é corpo bonito, sorriso bonito, canto bonito, e tristeza, angústia, e cansaço. Ela é o mistério sempre na iminência de tornar-se vida. Mas vida que sai da vida mesma, que se auto-alimenta e sustenta. Sem precisar de um toque meu. E uma vez que vira vida, vira real. E nesse ponto é difícil interferir.
Mas há um jeito de escolher, e essa etapa é a mais importante. Há a escolha: entre o sim e o não.
Pode-se escolher que seja corpo bonito, sorriso bonito, canto bonito, tristeza bonita, angústia bonita e cansaço bonito.
Ou corpo feio, sorriso feio, canto feio, tristeza feia, angústia feia, cansaço feio.
A primeira opção é vista como ludibrio, e a segunda opção como a verdade, como a caca orgânica sob o nariz plástico. Mas a caca é plástico, e o plástico é orgânico. Quem crê nisso, vive o plástico e não consegue sair de cima dele. Nadam na superfície por não ser pontudos para perfurar o plástico. São esféricos, unos pela tensão superficial que sustentam. São o que há de mais forte, e de mais fraco. Vivendo o real pelo real, a vida pelo real. É tudo crueza. O que é.
Enquanto se pode viver o não (ou não viver - é questionável), pode-se também, de outro modo, optar pela primeira opção. Crédulos. Teimam em sempre dar chances à moça. Costumam crer que moça é sempre felicidade, e que devem ser sempre felicidade para a moça. Incutem-lhe uma aura, e a sustentam para que ela os sustente quando precisarem. São a caca orgânica, aquela que vive o real pela vida e a vida pela vida. Embelezamento mental.
Não questiono aqui modos de vida de outrem. Longe de mim. Longe da moça.
Devo contar que ainda vivo com a moça. A moça do passado - ainda vive em mim. Só que não mais darei um futuro a essa moça. Não mais darei à moça ordens de comportamento. Sem elas, ela é puro momento, sem chances de adaptação. É estática, é o que foi.
Mas eu gosto. O que foi me agrada. O que foi é bom para o coração.
E depois? Que fazer com a vida ainda por vir?
Aceito a moça que sei. Aceito-a em sua verdade interna, para mim o imprevisível e imutável. Aceito encaixar-me em suas brechas - a faço delas a minha vida. E me injeto eu em suas brechas: para que eu também torne-me imprevisível e imutável para a moça, para que possa também saber-me e aceitar-me.
A moça que sei pode surpreender-me. A moça do passado não me faz surpresas, porque tudo que faz é porque quero. Eu sei o que vai fazer antes que faça - talvez nem faça, exatamente porque me contento com saber que fará. E isso é rotina - é a rotina como quero, mas tudo sempre partindo de mim o tempo todo!
Essa moça do passado, essa moça é eu. Se eu quisesse estar comigo - melhor que ficasse sozinha.
A moça que sei é nova, é diferente, é instável, é intrigante, é viva. Tem corpo.
A moça que sei me quer. A moça que sei, essa moça - é minha moça. E é exatamente assim que eu quero que seja.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"A felicidade é o rumo ao abismo".

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A "hora perigosa", como sintetizou Clarice. Eu me espanto com os tantos que não entendem o conceito. Eu compreendo, é estranho que tenhamos que dar um salto para além da existência para senti-la como existência. O homem é relatividade sobre relatividade - eu sou o outro, que se faz pelo outro, que se inspirou no outro, mas como todos esses outros nunca foram eus? É tantas dimensões e, sendo tantas e tantas camadas, o homem é incapaz de viver sua dimensão humana. Nós não existimos. Nós existimos porque nos dizem que existimos e a partir daí devemos nos desenrolar naquilo que recebemos no nascimento. Mas não sentimos a existência ardendo, o corpo crescendo, a vida sendo. 
Olhamos para a multidão, e vemos movimento. Assim como se vê movimento na televisão. Ela não morre, nós nela não morremos - só nossos personagens. Assim é na vida. Fulano morreu, se machucou, perdeu o dedo e fim, mas ele era só um figurante.
A morte precisa vir para cima. E quando apaga tudo e nos torna incapazes, somos obrigados a viver para sobreviver. E não aproveitamos a vida pura, porque doi muito. Porque somos despidos, invadidos, expostos e frágeis - e precisamos ser fortes e fazer esforços primitivos, esforços para os quais não fomos treinados - condicionados - e que precisamos desentranhar de nossos ossos. Mas é aí, é quando realmente vivemos.
A iminência da morte é um sopro de vida. Aprendi com a Clarice - e com a vida.