quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

E no fundo eu sou tão hipócrita, porque eu escrevo tudo isso só porque fiquei um tempão pensando nisso e para impressionar os meus dois leitores e meio, porque na verdade eu estou tão feliz neste momento que nada disso condiz com o meu estado de alma.
Eu tenho orgulho de não ser normal. De pensar diferente, de ter uma mente criativa e uma inteligência pendendo para o autismo. Mas as pessoas assim nem sempre são felizes. Aliás, o fértil pensamento, a capacidade de abstração social, de observação e análise, frequentemente vêm acompanhadas de grandes períodos de dúvida, surtos, problemas, solidão e depressão. 
Eu rio da pessoas fúteis por me considerar um tipo melhor de pessoa. Mas eu não penso como uma pessoa fútil. E nem sou feliz como uma pessoa fútil. Se eu fosse uma pessoa fútil, bem abastada, que só me preocupasse com o meu corpo estrutural, meu cabelo e meus amores de uma noite só, eu riria de mim (de mim eu que escrevo, o mim de verdade). Eu seria simplesmente feliz e riria dos nerds excluídos como eu. Esse eu fútil, esse estereótipo raso que foi criado para servir de válvula de escape para o meu preconceito e meu desprezo, não pensaria demais na vida, porque não precisaria. Aliás, ele nem saberia pensar demais na vida e criar problemas, porque ao invés disso estaria sendo fútil e feliz.
Então eu me pergunto: por que eu rio dessas pessoas que só buscam a própria felicidade? E eu pergunto isso ainda acreditando que eu estou certa e que preciso ser como eu sou, nem sempre feliz, nem sempre segura, mas só para ter a certeza de conhecer mais, de criar mais, de talvez deixar um legado para o mundo. Eu posso até me suicidar (como a Virginia Woolf, por exemplo), mas serei sensacional! E isso tudo, essa sede por reconhecimento, por uma vida significativa - e acima de tudo esse orgulho por esse sentimento! -, não sei... será inteligência ou estupidez?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Eu não quero voltar para a terapia. Eu sempre quis fazer terapia, oficializar esse ato de pensar sobre a vida que ocupava tanto tempo dos meus dias. Eu fiz, por um tempo, pouco, mas tive que parar. Na época eu realmente achei interessante, saudável (!). Mas naquela época eu estava perdida, cheia de incertezas e tristezas infundadas. Hoje eu estou feliz. Hoje eu parei de pensar na vida o tempo inteiro. Hoje eu tento evitar a geração espontânea de problemas pelo simples ato de insistir em pensar demais sobre assuntos sortidos. Eu cutucava as coberturas de todos os meus bolos de vida: meu indicador ia bem fundo, como uma bala de canhão, e eu quase sempre chegava ao recheio. Nem sempre fazia sentido, e às vezes me desapontava, mas eu sabia qual era o recheio. Hoje eu lambo as coberturas dos novos bolos, rumino as cerejas e as raspas de chocolate e vivo nessa superfície (larga e infinda). Eu não conheço os recheios e pode ser que eu ache que um bolo com o recheio horrível é bom somente pela cobertura, e cometa o fatal erro de comê-lo. Mas por enquanto as coberturas são todas tão boas! Por que eu não posso simplesmente curtir as coberturas? E se o bolo apodrecer e eu nunca precisar chegar ao recheio?
Por que sempre temos que saber?