Uma coisa que eu gosto de fazer é andar de olhos fechados. Ir para um espaço muito aberto, com muito nada por vir, fechar os olhos e atravessar a distância incalculável. Sinto falta de viver num mundo onde eu possa andar e andar, mesmo que eu não saiba para onde. Normalmente quando o faço, percorro nada mais do que três metros, tenho medo do escuro.
Sinto falta de um mundo no qual eu possa plenamente confiar. É como a brincadeira do joão-bobo humano: nunca consegui deixar-me cair. Sou grande demais, pesada demais, quem conseguiria impedir a minha queda?
No fim, acabo sempre caindo lentamente.
Lentamente não é um bom advérbio de modo para a dor.