quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma coisa que eu gosto de fazer é andar de olhos fechados. Ir para um espaço muito aberto, com muito nada por vir, fechar os olhos e atravessar a distância incalculável. Sinto falta de viver num mundo onde eu possa andar e andar, mesmo que eu não saiba para onde. Normalmente quando o faço, percorro nada mais do que três metros, tenho medo do escuro.
Sinto falta de um mundo no qual eu possa plenamente confiar. É como a brincadeira do joão-bobo humano: nunca consegui deixar-me cair. Sou grande demais, pesada demais, quem conseguiria impedir a minha queda?
No fim, acabo sempre caindo lentamente. 
Lentamente não é um bom advérbio de modo para a dor.

sábado, 25 de setembro de 2010

O que vale mais na vida: viver ou mostrar que você está vivendo?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cheiros são interessantes. Não cheiros ordinários, mas cheiros fulminantes e repentinos, que se destacam acima dos outros. Não só aqueles que penetram fundo no nariz, mas aqueles que penetram mais fundo ainda e grudam nas lembranças. Eu gosto desses cheiros, pois eles são transposições físicas das pessoas, mais materializantes do que as fotos, por exemplo, que são meras representações. A diferença é que o cheiro é palpável, mesmo que por não mais que uma inspirada, enquanto a fotografia é inalcansável. O cheiro é exatamente igual ao outro da lembrança, é vivo: senti-los nesses dois momentos é reviver a experiência primordial num outro tempo. 
Aspirar as pessoas é bom. Aspirar as pessoas é como incorporá-las e, assim, compreender tudo aquilo que tomou-se por incompreendido. É sobre-humano ser levada para a intermitente e efêmera dimensão do olfato-memória.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Eu tenho minhas dúvidas acerca da saudade. Saudade é dolorido e me faz chorar. Eu, especificamente, sou extremamente sensível à saudade. Mas eu odeio quando a saudade pára de doer. Porque o fim da saudade é a indiferença.
A falta pode doer fisicamente, mas faz o coração bater. A falta indica sentimento, indica amor, indica a vida.
A indiferença dói na mente, dói na alma. A indiferença é a morte da consideração.
Sinceramente, eu prefiro viver sofrendo do que estar morta e fisicamente intacta.

Este tema poderia render bem mais, mas hoje estou indiferente.

domingo, 12 de setembro de 2010

Viver dói. Não a vida como categoria absoluta, a minha vida. Existe uma linha divisória do que é considerado loucura e do é considerado normal. A partir da loucura, o conserto é iminente, há a pena, o desconsolo, a compaixão. Mas o que há até a loucura? O que é feito da dor ordinária, da dor que dói de dentro para fora, que corrói aos poucos? Da dor que não é exteriorizada, da dor que dói no peito. E no cérebro.
Qual é a magnitude da dor? Qual é a magnitude que a dor tem que ter para ser considerada dor?
A dor só dói. Não há dor que dói menos e dor que dói mais, só dói. Simplesmente.

sábado, 11 de setembro de 2010

Fui acordada com um puxão hoje, de umas mãos translúcidas, finas e geladas. Era o tempo, me dizendo que a minha vida tinha que continuar e estava esperando por mim. Puxei as cobertas, retrucando "ela que viva sem mim, estou com sono!". Mas não dava mais: "já te demos dois dias, agora você deve vir rápido", respondeu o tempo, sábio e incisivo.
E assim foi que levantei, tomei um banho, me vesti e retomei a vida que tinha deixado em suspensão.
Por que suspender a vida? Para dar uma chance ao sofrimento, eu penso. A morte tem seu papel quando a vida é cancelada, mas o sofrimento só pode agir nas frestas da vida, naqueles momentos em que o vivo se cansa de tentar. E o sofrimento faz-se vício, porque não faz-se esforço. Faz-se descanso, não exige cuidado, não exige convenção social, não exige beleza, não exige sorriso. Em troca da vida, ele fornece a mais sólida bolha de não-existência, onde é fácil estar - porque o difícil é existir.
Uma vez que se entra no sofrimento, ele se faz mais e mais profundo, e cada vez mais envolvente. O que poucos percebem é que, quanto mais se entra em um túnel de mão única, maior é a distância que se deve percorrer para chegar à saída. O sofrimento oferece muito, mas não se constrange em cobrar dobrado. O sofrimento é esperto e não tem sentimentos.
Para trazer de volta a vida, tem-se que combater a inércia, e é duro contestar as leis da física. O tempo me ajudou hoje, como vem me ajudando intermitentemente desde que comecei a viver, como que para se desculpar por ser um espião da morte. E o mais engraçado é que superei a inércia por cansaço. Cansei de descansar, cansei de sofrer.
Então é isso, agora vou viver, com licença.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu penso números coloridos. Letras também, mas as letras são mais difusas, talvez por serem múltiplas. Quando você pensa um número, ele provavelmente vem velado, em um tom elevado, por uma incisiva e cortante linha única e preta. Pois é, os meus são gordinhos e coloridos.
É a vida, minha gente, alguns têm, outros não, conformem-se. Como eu sou boa gente, vou explicar o esquema de cores, para vocês desenharem e colarem na parede se quiserem:
o zero é transparente
o um é azul translúcido
o dois é verde grama
o três é salmão rosado
o quatro é amarelo milho
o cinco é azul mar límpido
o seis é marrom Toddy
o sete é amarelo camisa da seleção
o oito é preto bola de bilhar
o nove é vermelho natal
o dez é amarelo translúcido.
Tem mais, eu poderia ficar aqui contando até zilhões, mas depois as cores começam a se repetir.
Bom, a conclusão que eu tiro desse fato é que eu tenho uma anormalidade mental, mais ou menos como a sinestesia. Ou pode ser um mecanismo de compensação cerebral para deixar mais colorida uma vida em preto-e-branco. De qualquer jeito, me diverte.
Eu queria que vocês pudessem pensar números coloridos.

[Eu dedico este post ao meu amigo Caio, que é um número colorido.]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Hoje é meu aniversário.
Eu tenho esse negócio besta de ficar esperando ansiosamente pelo meu aniversário, só pra ver quem vai me dar parabéns, como e quando. É uma tortura lenta, que vai só piorando conforme o dia passa, porque há cada vez mais gente pra me dar parabéns em cada vez menos tempo.
Eu fico, eventualmente, feliz, com parabéns que superam minhas expectativas. Mas fico mais freqüentemente decepcionada com a capacidade das pessoas de não se importar. Não hoje, sempre.
O mais triste na verdade é saber que pessoas que antes eram importantes para mim, de repente, deixaram de ser. Por quê? Porque não se importaram. E é preciso se importar.
Foi um dia não usual. Eu queria abraços. Tudo o que eu quero são abraços. Palavras são boas, muito boas, são eternas. Mas não sei por que o momento ínfimo de um abraço vale muito mais.
Queria mais coisas também, mas deixa pra lá.
A ausência dói.
E o aniversário passa incrivelmente rápido.